sábado, agosto 27, 2011

Esse rio descansará.

De tanto ser muralha que separa vilarejos em guerra, fui devastada. Bombardeada de todos os lados, de todas as maneiras possíveis e impossíveis. Estou desmoronada, sou fragmentos. Estou fragmentada, sou resto. E quem quer saber resto? Não eu, não você, não eles. Resto não satisfaz, não sustenta. E eu sou pouco, quase nada.
Estou desgastada, fui dessipada pela maré. Meu coração de sertão passou a ser temporada de chuva. Muitos trovões, nunca clareia o dia, temo que essa tempestade nunca chegue ao fim. Quero meu fim, logo. Quero sair dessa jaula e esquecer da dor de ser quem sou. É triste ser triste, é triste acharem que sua tristeza á apenas drama. Não, drama não dói e o que sinto é dolorido. Tão dolorido que amarga, enxergo pretoebranco, ruídos me enlouquecendo.
Será isso? Estou ficando louca? E se eu nunca mais sorrir? E se eu nunca mais te ver? Era uma vida perfeita, de repente bateu o sinal, hora de dizer adeus? Já? Mas, mas... peraí, eu nem me despedi. Preciso voltar lá, preciso voltar ser muralha forte. Não esse murinho ressentido, não consigo.

sábado, agosto 06, 2011

À um herói enfraquecido.

Não sei por onde começar. Não sei como começar, o que te falaria depois de tantos anos? Desculpa pai, mas amor paternal de fachada não cola? Eu me sinto incapaz de magoá-lo dessa forma. Afinal você sempre esteve aqui, por pior que fosse a fase que estivéssemos passando, você se sentiu incapaz de me abandonar.
O que eu não compreendo é essa falta de aproximação. Não entra na cabeça como nos perdemos, não encontro motivos plausíveis. Talvez você conheça todos eles, e isso tenha sido pela culpa que assumi quando aquela estória desmoronou nossa família. E se isso foi perdido lá atrás, na minha infância, sinto muito mas não poderemos nos recuperar. Estamos sempre distantes em nossos mundos particulares, e eu queria muito tentar alguma reaproximação, saber como foi seu dia, se eu tive te magoando e pedir desculpas. Desculpa por não ter seguido o plano de vida que você implantou para mim, desculpa por todas as noites em que ficou esperando eu voltar para casa naquele sofá desconfortável. Não tive sendo uma boa filha, talvez eu não sou a filha com a qual vocês sonharam a vida toda.
Entro em desespero ao pensar que amanhã posso acordar e não te encontrar, as memórias afáveis não enchem uma colher de afeto, juntando os minutos de conversa não enchem uma caneca pela metade. Mas, eu não posso quebrar esse silêncio que ecoa entre nós, porque não tenho certeza se ele foi imposto por sua vontade. É estranho ser estranha para quem compartilha o mesmo sangue que eu. É estranho se sentir incapaz de dizer um simples eu te amo para quem sempre esteve ao meu lado. Acomodamo-nos nessa relação perecível, pai covarde filha covarde, afinal filho de peixe, peixinho é, não é mesmo?
Eu queria ao menos acordar amanhã e me sentir preparada para um abraço inesperado e soltar um: Feliz dia dos Pais, senti sua falta durante todos estes anos. Mas nossas opniões divergentes, só acentuam ainda mais essa falta de espaço entre nós. Continuaremos almoçando, jantando, digerindo a todo momento arroz, salada e silêncio. Não posso, me desculpe mais uma vez.

domingo, julho 31, 2011

A boneca renasce.

Poderia mentir e dizer que me sinto tão bem e tão leve que dançaria ao som de Janis Joplin por cima da cabeça de todos. Mas a verdade é que meus sentimentos mais se parecem com cavalos indomáveis que acabaram de ser liberados de seus estábulos. E são tomados por uma sensação única de liberdade. LI-BER-DA-DE, soa como música para meus ouvidos. Meu pai está assistindo ao Faustão, o volume da tv está muito alto. Tento me concentrar no turbilhão de pensamentos que sou tomada, mas isso me parece meio vago.
Quero entender o que foi que mudou para eu simplismente acordar depois de uma noite de terríveis pesadelos, me sentindo tão diferente. A verdade é que chorei muito noite passada. Chorei um choro mansinho de quem acaba de descobrir uma coisa boa. "Conforme forem seu pensamentos, assim será seu interior. Conforme for seu interior, assim será seu mundo. Se seu interior for cinzento e instável, seu mundo será cinzento e instável. É por isso que as palavras estão sempre tão cheias de veneno, e as pessoas estão sempre atormentadas pela dor. Porque as pessoas não estão em paz, nem felizes. Porque faz isso consigo mesma? Porque culpa os outros pela sua amargura? Não percebe que a alegria deve vir de dentro? Não tente achar culpados pela sua tristeza. Se as coisas não estão fáceis, porque não tenta mudá-las?" Minha mãe leu isso de algum livro. E as palavras foram entrando como pedras em meus ouvidos.
Depois de chorar, me despi. Me despi para me re-descobrir. Me lamentei por ter vivido tanto tempo entre as migalhas do que já fui e do que estava me tornando. Tive vontade de gritar para que todos me ouvissem, silenciei meu coração porque este é um desafio meu. Ninguém pode viver por mim.

sexta-feira, julho 29, 2011

Para a sempre minha, C.

" Meu amor,
Pensei em escrever tudo que se segue formalmente em uma carta. Mas tudo parece muito vago. Nunca toquei sua pele, nunca encarei seus olhos amendoados, nunca estive a menos de 100 m do seu campo magnético, do seu coração caloroso e gentil. Sonhei com você várias vezes, em todas elas o encontro que acontecia, era tão vibrante quanto a música que tocava dentro do meu coração. Então eu acariciava tua pele branca, teu cabelo cacheado, e parava em tua frente por um tempo incalculável, absorvendo cada pequeno detalho do seu rosto tão alegre. Eram momentos tão nossos, e então eu lhe sussurrava todas as poesias bregas que já lhe escrevi. Cantava canções que tocavam em meu coração todas as vezes que me chamava de 'meu amor'.
Ás vezes acho que estou ficando paranóica. Te procuro em meio à multidão mesmo sabendo que nunca te encontraria por aqui. Te desenho ao meu lado, todas as vezes que rolo na cama antes de pegar no sonho. Sinto um cheiro diferente, um cheiro levemente adocicado e imagino que seja teu. Poderia dizer que estou obcecada se isso não passasse de um crime hediondo que cometo contra uma força, que insito em dizer que existe. Tenho surtos epiléticos no coração, todas as vezes que imagino ter você por perto. E esse te ter por perto é complexo, o computador está sempre ligado e eu, eu saí de amores reais, estórias concretas e racionais, para caminhar sobre uma corda bamba a fim de te encontrar.
E se, hoje estou tão à mercê da sua presença que é inconstante, foi por que esqueci de dar ouvidos ao que minha razão sempre dizia. Eu sabia que você me tiraria a paz, o sossego de uma vida morna e mesmo assim apostei todas minhas fichas em você. E quer saber um segredo? Eu adoro esse 'te amo' que sempre é meio incerto, que é absolutamente contraditório aos meus desejos de amor perfeito.
Aguardo ansiosamente pelo dia que nosso encontro passará de imaginário para real e te trará de vez para meu braços, num momento tão ímpar que se eternizará em minha memória. E enfim, vou sentir o calor que naturalmente você possui, sei disso porque já vivi esse momento milhares de vezes. E aí, eu termino essa carta me preparando para ir dormir. E com a sensação de que te escrevo exagerando nas metáforas para dizer apenas duas palavras: amo você.

Com amor, da pra sempre tua, Nayane."

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Fora de si, se encontra.

Meia noite, meu sangue escorrendo pela cama. Uma dor forte no meu braço, as luzes apagadas, não podia ver nada além so seu rosto dançando friamente na minha frente. Queria sentir algo melhor, mas o ardor de meu braço me fez sentir algo pior... muito pior que o mero frio que sentia por dentro. Aquele vazio foi aumentando, começei a desmoronar, fui virando poeira até que lágrimas me molharam e me transformei em um barro grudento. É assim que me sinto, um barro grudado na botas de todos que passam e me deixam cada vez mais só, cada vez mais comigo mesma, cada vez mais despedaçada.
Usei deste artifício pra me sentir viva, mas depois, agora, estou mais morta que antes de tudo isso começar.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Você grita, esperneia, corre, corre, corre e nada. Nothing. As resposta fogem de você.
Então mais uma vez você corre, corre, corre.Corre de você, das perguntas, do mundo.Só tenta de livrar dessa confusão que te impede de respirar.

O mundo colocado para fora antes de mim.

Faz muito tempo que eu vejo tudo tão pequeno. Meros mortais desperdiçando a vida com futilidades tão banais. E eu penso que se tudo voltasse a ser preto e branco, se o mundo inteiro entrasse para dentro de você assim tão rápido, se todos experimentassem como é estar morto por um momento, se todos sentissem como é estar realmente sozinhos neste vasto mundo de escuridão, talvez eles prestassem mais atenção. No meu amigo cacchorro, na minha mãe tagarela que reclama, reclama e reclama; naquela pessoa que fica ali atrás dessa parede de vidro invisívelquerendo entrar, querendo bater em sua porta e dizer: "Sabe que estive te observando e você é realmente linda? Será que eu posso te conhecer? Vamos tomar um drink, vamos viver, vem que eu te mostro como é fácil e não há nada doloroso nisso."
E eu vejo tudo daqui, mortais robotizados perdendo tempo, tentando ser inteiros, tentando não morrer nesta selva de pedras.E eu, eu sou mais uma nessa selvageria dos infernos. E eu esqueci como chorar, eu esqueci como é ser inteira, e eu esqueci que posso morrer, mas aqui de cima eu vejo tudo tão pequeno. E eu penso em você, esse céu azul, o formigueiro lá embaixo, as nuvens sorrindo, bailando e eu estou cansada de tudo o que preciso.
Aí me sinto tão bem que eu poderia fechar meus olhos e cair.