sábado, agosto 06, 2011

À um herói enfraquecido.

Não sei por onde começar. Não sei como começar, o que te falaria depois de tantos anos? Desculpa pai, mas amor paternal de fachada não cola? Eu me sinto incapaz de magoá-lo dessa forma. Afinal você sempre esteve aqui, por pior que fosse a fase que estivéssemos passando, você se sentiu incapaz de me abandonar.
O que eu não compreendo é essa falta de aproximação. Não entra na cabeça como nos perdemos, não encontro motivos plausíveis. Talvez você conheça todos eles, e isso tenha sido pela culpa que assumi quando aquela estória desmoronou nossa família. E se isso foi perdido lá atrás, na minha infância, sinto muito mas não poderemos nos recuperar. Estamos sempre distantes em nossos mundos particulares, e eu queria muito tentar alguma reaproximação, saber como foi seu dia, se eu tive te magoando e pedir desculpas. Desculpa por não ter seguido o plano de vida que você implantou para mim, desculpa por todas as noites em que ficou esperando eu voltar para casa naquele sofá desconfortável. Não tive sendo uma boa filha, talvez eu não sou a filha com a qual vocês sonharam a vida toda.
Entro em desespero ao pensar que amanhã posso acordar e não te encontrar, as memórias afáveis não enchem uma colher de afeto, juntando os minutos de conversa não enchem uma caneca pela metade. Mas, eu não posso quebrar esse silêncio que ecoa entre nós, porque não tenho certeza se ele foi imposto por sua vontade. É estranho ser estranha para quem compartilha o mesmo sangue que eu. É estranho se sentir incapaz de dizer um simples eu te amo para quem sempre esteve ao meu lado. Acomodamo-nos nessa relação perecível, pai covarde filha covarde, afinal filho de peixe, peixinho é, não é mesmo?
Eu queria ao menos acordar amanhã e me sentir preparada para um abraço inesperado e soltar um: Feliz dia dos Pais, senti sua falta durante todos estes anos. Mas nossas opniões divergentes, só acentuam ainda mais essa falta de espaço entre nós. Continuaremos almoçando, jantando, digerindo a todo momento arroz, salada e silêncio. Não posso, me desculpe mais uma vez.

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