sábado, setembro 04, 2010

Foi sempre assim.

"Querida B.

Faz tempo que não nos falamos, não é verdade?
Acho que a última carta que lhe enviei e foi correspondia foi em 1999. O último telefonema já completou 9 meses. Mas hoje senti necessidade que voltasse a me ouvir com os olhos.Reparou que minha caligrafia está mais grande e arredondada?
Estive escrevendo muitas coisas a seu respeito, textos e mais textos quenunca chegarão até você. Essa nova caligrafia e os textos - sobre a branquela alta de cabelos laranjados e uma beleza extremamente irresístivel - taparam os buracos que sua ausência me causou.
Seguimos caminhos diferetes do previsto, vim a Paris estudar moda e você está em New York fotografando. Isso é o que você sempre quis afinal né? Independência e fotografias, suas fotografias.
Por falar em fotografia, essa foto que estou lhe enviando é de 1997, a primeira que tiramos juntas. Aquela tarde foi divertida... nosso primeiro beijo foi inesquecível.
Quando cheguei aqui você me fazia muita falta - e ainda faz - , então peguei o hábito de sair por aí, para qualquer lugar, perder-me entre a multidão, sufocar minhas lágrimas com rostos inexpressivos e indefinidos que encontrava pelo caminho.
Caminhar sem rumo, beber compulsivamente, fumar frenéticamente, dormir quando o dia amanhecer, fazer sexo sem amor... isso
me ajudou fugir da dor que me consumia.
Aqui eu realmente chorei menos, sofri menos ... aqui ninguém fala seu nome, inclusive eu. Eu me proibi de sussurrar seu nome ao vento, embora meu coração gritasse por ele a todo instante. Mas aqui, aqui sou menos triste. Só não conseguu matar o amor que sinto por você, mas consegui
adormecê-lo.

Ele é teimoso e acordou.Se sentir saudade venha me visitar, esta passagem é um presente que estou lhe enviando.

Beijos,J. "

B. releu a carta, olhou novamente a fotografia, colocou o sapato, pegou o casaco em cima da mesa e partiu antes que perdesse o voo que a levaria para mais perto do seu grande amor.

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Pessoas que abriram o coração.